quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Vida Madrasta


Uma cidade grande e de muita importância para o Brasil. Santos, com seu porto torna-se um dos principais locais de acesso a exportação e importação de mercadorias.


É isso que eu vejo todos os dias, aqui da minha humilde casa. Containers indo e vindo, uma paisagem pouco bela, pelo menos para mim, um homem caiçara de 31 anos que vive aqui desde o nascimento de meus dois filhos, e hoje viúvo. De fato, minha vida não é fácil. Aliás, trabalhar pescando para sustentá-los, não ter um pingo de vida social, é bem difícil. Há tempos, morava pelos arredores de Cubatão, uma cidade pouco bela. Muitas indústrias, muita poluição. Uma época horrível, da qual jamais esquecerei. Há onze anos um ocorrido mudou totalmente minha vida; minha mulher contraiu câncer que, após dois anos, levou à morte. A exposição a componentes químicos emitidos pelas fábricas e ao seu hábito de fumo, naquela região e naquele tempo foram fatais. Fiquei só... Médicos dizem que a doença que Carlos, meu filho mais velho, possui é por conta das matérias tóxicas que tinham, há dez anos, no ar impuro de Cubatão. Hoje em Santos, levamos uma vida um pouco melhor, já que a estrutura da cidade vem melhorando ao longo dos anos. Porém é tudo muito precário, pois não sou respeitado como pessoa, sendo um caiçara, que trabalha muitas horas por dia e o cheiro de meu trabalho se impregna no meu corpo. Nasci na Vila dos Ingleses, localizada em Paranapiacaba. Uma cidadezinha pouco desenvolvida, um patrimônio histórico. Quando pequeno sempre caminhava pela Trilha e visitava o Museu Ferroviario. Mudei-me para Cubatão é lá conheci minha mulher.


Não faz muito tempo, aqui em Santos, um navio perdeu o controle e bateu em cargueiro no Porto. Pelo que me consta, a colisão não deixou nenhum ferido. Porém, posso dizer que meu filho que estava próximo ao local e presenciou o acidente, ficou traumatizado. Antes, ele queria seguir meus passos e tinha orgulho de dizer que era um Caiçara, hoje não chega nem perto do mar, nem do mangue.

Nossa vida é muito difícil. Dependemos da pesca, dos caranguejos do mangue e de algum artesanato que fazemos. Já vai longe o tempo em que vivíamos de forma simples, mas com dignidade. Hoje, de certa forma, dependemos de outras pessoas, as quais nem sempre estão dispostas a nos ajudar. Gostaria de poder dar aos meus filhos estudo, porque assim eles teriam mais chances de terem uma vida melhor, e não passarem tantas necessidades e que, ainda hoje enfrentamos.

Fernanda Carvalho

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