Segundo o dicionário Aurélio a palavra estiva, resulta do serviço de movimentação de carga nos portos, realizado pelos estivadores. O que na verdade tem um valor e um significado muito maior do que a teoria explica. Está concentrado ali, naquele homem, todo o esforço que traria, e trouxe como produto o desenvolvimento de uma região, e de um país.
Neste caso, usamos João como nome para distinguir o personagem, embora pudessem ser tantos outros para retratar a realidade de todas as vítimas de uma mesma história.
João era pobre, morava com sua mulher, em uma vila cercada por áreas de plantação, viviam do que o trabalhador ganhava pelo cultivo da terra. Vieram os filhos e a situação apertou, mas não a ponto de abalar a esperança. O homem prometeu a todos que daria uma vida melhor para eles, Partiram para Santos, cidade que, na época, iniciava seu desenvolvimento e prometia bons trabalhos portuários.
Chegando lá a situação foi controversa, o que conseguiu de emprego, devido à baixa escolaridade, foi o serviço de carregamento e descarregamento de carga até os navios. Agora se tratava de um estivador, embora não soubesse ele que miserável seria tanto quanto fora onde morara antes. Anos difíceis aqueles.
O trabalho no porto exigia um esforço físico desigual, medido por limites, dava-se o que se podia, carregava o máximo que conseguisse da forma que fosse, o que, posteriormente, gerava problemas de coluna, por exemplo. Reduzia ainda mais a esperança de vida.
As condições de trabalho eram insalubres, o lugar era sujo, sem saneamento, sem asfaltado e que reunia pessoas de diversos lugares, que eventualmente traziam doenças, que se tornavam pestes e atingia a toda aquela camada populacional.
A cidade de Santos e de Paranapiacaba estavam crescendo bastante naquela época, vieram às ferrovias que ligavam as cidades ao interior. O fluxo de mercadoria aumentava, e era requisitado um esforço maior no porto. Que posteriormente traria como resultado o desenvolvimento da região e o surgimento de grandes metrópoles comerciais.
João como tantos outros segue sofrendo, sua família tem fome e estudos para seus filhos não pode dar. Encontrou esperança, lutou e chegou ao mesmo lugar. Os ricos esnobam o poder que ele e seus colegas os ajudaram a adquirir. Daqui a uns anos morre, e o mesmo acontece com seus filhos, e assim sucessivamente até alguém os enxergar. São imperceptíveis, e são muitos. Estão por ai, em todos os lugares, só não os vê quem não quer.
música: Construção – Chico Buarque (versão com intervenções diferentes).
A intenção era escutar a música enquanto se lê o texto, embora a letra trate de operários, pode se pensar no trabalhador em geral e na construção com tijolos (como ele diz) no sentido de enriquecimento do país. Cabem várias metáforas, que deixo ao leitor desvendar. Embora a letra seja bastante significativa, especialmente esta melodia está com algumas intervenções e estabelece o clima que procurava.
Júlia Simchen Zimmermann
Fotos feitas por mim na BOLSA DO CAFÉ (Santos).
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