Eu e minha família vivíamos em uma pequena vila, com outros estivadores e funcionários do porto. Quando conheci minha mulher e decidimos nos casar, eu não tinha trabalho. Seu pai nunca daria a permissão e, portanto, precisaria de um emprego. Foi quando descobri que alguns amigos estavam indo pra Santos, cidade próxima a minha, trabalhar como estivadores. Fui.
Carregar todos os dias dezenas de quilos nas costas era exaustivo, corríamos risco de ter alguma doença devido à falta de higiene e da enorme quantidade de bichos. Também já perdi muitos companheiros pela falta de segurança, mas, apesar de tudo, ser estivador era meu ganha-pão, e foi como consegui construir minha família. O salário não era bom, ainda mais com todas as injustiças que sofríamos, mas eu e todos os meus colegas tínhamos orgulho da nossa profissão.
Hoje, quase 100 anos depois, vejo a cidade de Santos. Aquele tempo de trabalho braçal e cintas para impedir que os órgãos se danificassem com o peso, são passado. Um passado nem tão distante. Afinal, recentes mesmo são as máquinas. A pequena vila onde morava, agora foi cercada por prédios, hotéis, lojas... E o verde, aquele verde da praia, da floresta, não e mais o mesmo. O porto então, está com cada vez mais navios chegando e partindo, cada vez maiores e com mais mercadorias. Aquelas gigantescas máquinas cortando as leves marolas do mar de Santos, que fazem a cidade crescer, não somente no sentido literal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário