quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Minha Santos, Minha História

Sou garçom em um restaurante em Santos. Há trinta anos passo em frente ao porto, todo dia, para ir e voltar do trabalho e creio que, com isso, já posso dizer como aquele lugar mudou durante todos esses anos.

Bons tempos aqueles de quando tudo era mais calmo, digamos assim. Com o decorrer dos anos senti como se tivessem aprisionado o passado, a história do porto. Com todas essas mudanças tecnológicas, avanços, reformas, o porto perdeu sua identidade, perdeu aquele ar histórico, aquelas características que nos levavam ao século XVIII.

Ainda me lembro de como as coisas costumavam ser... Aquela correria, aquela boa correria, aquela correria saudável, não a caótica de hoje em dia. Os estivadores suando ao sol do meio dia, os maquinistas sujos de carvão, as cargas indo e vindo, as prostitutas sempre a espera de um marinheiro solitário. Aquele trabalho que cada um fazia com gosto. Salve, salve os maquinistas! Salve, salve os estivadores! Sou marinheiro sim, sou e com muito orgulho!

Mas as coisas não são mais assim. Agora não há respeito entre os frequentadores do porto, tudo não é mais uma família. Não sei se o avanço veio para melhor ou para pior, mas ele está aí, não posso fazer nada. A confusão para o descarregamento dos caminhões, filas que duram horas, dias, semanas! A poluição trazida pelos navios, o petróleo que é jogado no mar... A proximidade de Cubatão, a poluição trazida pelos transportadores dos contêineres! Houve uma degradação do meio ambiente muito, mas muito significativa. As obras que levaram o porto a tornar-se salubre e a receber navios de todo o mundo fizeram com que o movimento se expandisse significativamente, o que é muito bom, mas é bom quando se tem consciência. Eu mesmo admito que no restaurante, por exemplo, o lucro aumentou o movimento também, o negócio sem dúvida está bem melhor, a importância do porto cresceu muito, mas a dizimação do coração de Santos cresceu na mesma escala!

Não estou dizendo que sou contra a melhora dos serviços do porto, o aumento do movimento, o avanço tecnológico e o crescimento econômico do país, não, muito pelo contrário. Quero mais é que isso aconteça, quero mais é que o porto ainda tenha muito que crescer, porém que ele cresça respeitando o papel de cada trabalhador que está nele, o seu passado e o meio ambiente.

Marcela Piza

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