quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Retrato em branco e preto

O presente exclui qualquer futuro. Sem pessimismo.

A humanidade caminha agora de tal forma que não há como consertar. O caos instalou-se tanto aqui, em Santos, quanto no mundo. Falhamos. E obviamente, o futuro decorre do passado. Portanto, se tivéssemos feito diferente, mesmo somente no Estado de São Paulo, talvez a situação não fosse tão crítica. É claro que em meus quarenta anos de vida aprendi que de nada adianta lamentar, porém o passado serve para evidenciar as nossas falhas e dar-nos indicações para o progresso do futuro ¹ – se é que algum progresso ainda é possível -..

Pois bem. Hoje, em 2067, vivemos na era da desigualdade e escassez. Esgotaram-se os recursos naturais e mudanças climáticas atingiram todo o planeta, assim, somente os mais ricos podem pagar pelo que sobra. Surgiram revoltas por parte de quem não pode pagar por esses recursos, bens e serviços, e a desigualdade social está cada vez mais se acentuando. Não há mais verde, não há mais cor. Nem o céu é mais azul.

Sem pessimismo.

Então voltemos no tempo.

Em 1532, Brás Cubas chega aqui onde hoje é Santos, junto com a expedição de Martim Afonso de Souza e funda o porto em lugar estratégico. 1546. O então povoado é elevado à condição de Vila do Porto de Santos, e a Alfândega é instalada em 1550. O porto cresce, durante mais de três séculos, mas na minha opinião, o principal marco é o ano de 1867.


Há exatamente duzentos anos, ocorreu o início da operação da São Paulo Railway, a linha ferroviária que ligava a cidade de São Paulo a Santos. O café já se desenvolvia no estado e em outras partes do país, mas com a interligação, que conseguiu vencer a dificuldade de enfrentar a Serra do Mar, a região simplesmente entrou em seu ápice.



E aí que surgiram erros significativos.

Todo dia, centenas de trabalhadores movimentavam a economia paulista e brasileira. Navios irrompiam no horizonte, prontos para serem lotados de café. Estivadores levavam quilos e quilos do grão nas costas, que fora trazido do Planalto para o litoral através da ferrovia. Embarcações cheias, e o bolso dos corretores da Bolsa, também. E os trabalhadores? Para eles mais trabalho físico pesado, em condições precárias de higiene e salubridade, lá no meio das epidemias. Uma cadeira na Bolsa do Café equivalia à loteria da época mais uma casa com dez quartos, enquanto um dia de trabalho no porto, mal garantia o pão para os estivadores.


O porto cresce. A cidade cresce. A economia cresce. Cresce a desigualdade, cresce o desmatamento, cresce a exploração, a prostituição, a corrupção, a discriminação, a poluição. Os ricos cada vez mais gananciosos, e os pobres, cada vez mais oprimidos. O capitalismo vai estabelecendo uma sociedade despótica.

Mas não para por aí não.



A ferrovia é substituída pela rodovia. O tráfego aumenta. O país se industrializa. Nasce Cubatão, o Vale da Morte. Poluição, consumismo, desmatamento, desrespeito ao meio ambiente, tudo isso contribui para o surgimento de todos os problemas ambientais e de saúde. E some ainda com os sociais. Os conflitos foram, com o tempo, excluindo a solidariedade, respeito, caridade, paz. E aos poucos o quadro mundial e regional chegou aos dias de hoje.

Sempre para se enquadrar no globalizado cenário mundial o Brasil e o estado de São Paulo foram também contraindo os mesmos problemas que enfrenta todo o planeta. Uma coisa leva à outra.

Estudemos as coisas que já não existem. É necessário conhecê-las, ainda que não seja senão para as evitar ². E é o que eu, João Augusto Cubas, faço, ou pelo menos tento fazer. É claro que ressalto o lado ruim de todo esse trajeto da história. Até porque, se tivesse mais lados bons, por que seria o presente tão ruim?

Sem pessimismo.

O que se precisa é justamente deixar que o sol não se ponha de vez.

¹ Henry Ford

² Victor Hugo

Mariana Pasquero Lima Torres de Carvalho

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