sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Condições de trabalho no Porto de Santos

Sou um estivador e trabalho no Porto de Santos desde jovem e sempre estive vivendo nesse local, pois meu pai era um estivador e minha mãe uma garçonete de bar.
Eles deram muito duro para me criar e sou muito grato, mas mesmo assim não posso levar uma vida fácil. Hoje com meus 18 anos, maior de idade e vacinado irei correr atrás das minhas idéias e dos meus direitos, como trabalhador, pois não sou escravo e acho que não devo correr os riscos que corro pela miséria que ganho no Porto de Santos.
Meu trabalho não é mais tão requisitado quanto era na época do meu pai. Por causa da industrialização, a mão de obra humana foi ficando desnecessária e com o maquinário moderno são necessários apenas um ou dois operadores, por isso a mão de obra foi sendo reduzida ao mínimo.
Para nós estivadores isso foi péssimo, pois o nosso ganha pão, que já era pequeno e suado, ficou ainda mais difícil de ser conquistado.
Além disso a segurança em nosso trabalho é medíocre.
Nesse dia eu estava trabalhando, e justamente o rapaz que sofreu o acidente era meu colega de trabalho e ele não estava lá porque gostava, e sim por necessidade, pois se não estivesse lá, poderia estar furtando ou roubando ou até quem sabe matando.
Ele era uma pessoa de família, que só queria o melhor, e era honesto, às vezes, o preço da honestidade é muito caro, pode custar até a vida, como foi o caso dele.
Poderia ser qualquer um no lugar dele, até eu.
Vocês podem imaginar uma pessoa trabalhando 18 horas por dia, para ganhar uma miséria e um dia você morre no trabalho, esmagado, debaixo de um container, deixando uma família para trás, que dependia de você para o seu sustento. Como eles sobreviverão? Pois acredito que o Porto não indenizará a família, para eles, ele era só mais um coitado, que não faz a menor diferença, pois de onde ele veio, terão outros vários trabalhadores para substituí-lo, pelo mesmo salário ou ate por um salário menor. Ninguém sabe que são eles que vão acorda cedo para ir trabalhar e movimentar a economia do país.
Ainda tenho esperança suficiente para achar que um dia isso pode melhorar, que vamos conseguir juntar um dinheiro, mas, na verdade, sempre ganhei pouco e até fiquei devendo no final do mês. Quando consigo grana ,como sou honesto, uso para pagar o que devo, e de novo fico liso.
Tudo isso ainda é pouco, pois provavelmente vou morrer aos 30 e poucos anos de alguma doença desconhecida que circula pelo Porto, eu nem sei como me prevenir dela.
Geração após geração ganhou dinheiro com nosso suor. Enquanto eles investiam na bolsa de café, nos o levávamos de um local ao outro nas costas. Como um pobre estivador, como eu, e que segundo as pessoas não tem conhecimento algum, pode fazer para um Porto ou mundo melhor?
Não sei direito, mas o que posso vou fazer é continuar lutando pela minha causa e de outros que comigo vivem e sofrem.

Rafael Galvão

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