sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Desculpas

Santos é uma das maiores cidades brasileiras, conhecida internacionalmente, seja pela sua história, pelo seu Porto, pelas suas praias, pelos seus curiosos e charmosos prédios tortos ou por qualquer outro motivo, mas não estou aqui para falar sobre qualquer um desses, e sim de outro lugar: o Ecopátio, que me fez refletir como nós, membros de uma sociedade Capitalista, temos a capacidade e, ainda mais, a coragem de destruir aquilo que não nos interessa (em certa parte). Sou um empresário de alto cargo da cidade de São Paulo de uma empresa multinacional exportadora de diversos produtos para todo o mundo, cujo nome não posso revelar aqui por questões de contrato, mas posso dizer que suas mercadorias passam pelo enorme Porto Santista. Nesse mês fui convidado a visitar a Baixada, coisa que grande parte dos Paulistanos nunca fizeram, pois hoje visitamos todo o mundo e não mais o nosso próprio país. Fiquei entusiasmadíssimo, é muito bom conhecer um pouco mais do funcionamento da região onde você vive, ainda mais quando ela fica a pouco menos de uma hora e meio de sua casa. Foi uma viagem tranquila, preferi descer pela Anchieta pela beleza e não pela rapidez da Imigrantes, afinal essa é uma viagem para se apreciar a paisagem. Fui chamado para verificar como iam as coisas em um lugar cujo nome era Ecopátio. Nunca tinha nem ouvido falar. Segui meu GPS e me defrontei com um lugar imenso. Entrei no mar de concreto e logo um funcionário perguntou meu nome, disse que esperava por mim e me levou para um escritório fechado. Começamos a conversar e perguntei o que era aquilo tudo. Ele me explicou dos problemas que existiam antes, com os caminhões, que paravam a cidade devido às esperas pelos navios, mas que agora, com a construção do lugar, estes caminhoneiros esperam pela liberação do porto, diminuindo os tempos de espera, além da melhora na infra-estrutura. Percebi que essa obra era a grande responsável pelo aumento de exportações nos últimos meses e assim, o aumento do lucro na empresa. Quase por instinto, perguntei: “E antes, o que tinha aqui?”. O homem olhou pros lados, pro chão, e, de cabeça baixa, respondeu: “ah, era a mata né”. Foi como um soco. Todos aqueles 443 mil m² eram daquela belíssima Mata Atlântica. E agora, o que fazer se estava tudo destruído? Não restava nem se quer uma só plantinha solitária naquele mar de concreto. Por que então o nome ECOpátio? Parei para refletir. Primeiramente: o porquê da sua construção? O desejo do Homem, no qual me incluo, pelo Lucro levou a construção desse. Se não fôssemos nós, nada disso existiria. Se não fosse nosso desejo por mais Capital, não seria necessária a construção de um “estacionamento” de caminhões, pois existiriam menos desses veículos, afinal esse pátio deu um “sinal” verde para as empresas como a minha: “os veículos vão ser mais ágeis? Então podemos enviar mais deles”. Lamentável, mas a verdade. Mas então penso: E a nossa cidade? Quanto fora destruído para dar lugar a prédios e mais prédios? Aquele Pátio era apenas uma praia se comparado ao Oceano de concreto da Capital Paulista. Tudo para dar lugar a mais montes de cimento cinza sobre aquele verde encantador. O que uma viagem não nos faz refletir... Além disso, não sabemos se novas espécies existiam ali ou em qualquer outro lugar antes do homem vir e destruir tudo. Afinal, pesquisadores dizem que conhecemos apenas 2% das espécies do planeta, então é possível dizer que já tenhamos colocado seres em extinção antes mesmo de termos conhecido, porém não saberemos. Outra coisa poderia ter ocorrido, na década de 50, quando o mundo estava na crise pós guerra: o investimento brasileiro em mais ferrovias, afinal elas são mais eficientes: um cavalo de potência ferroviário transporta mais do que 3 vezes em relação a um caminhão, o que resultaria em menor emissão de gás carbônico e menor desmatamento. Mas é claro que os interesses econômicos foram muito maiores, pois o mundo estava em crise, e a construção de rodovias iria trazer montadoras para o país e movimentar a economia. Porém foi uma decisão que levou em conta apenas o momento do cenário mundial, e não o futuro, assim como já ocorreu aqui com a não construção de uma malha de metrô satisfatória há algumas décadas, que resulta no trânsito de hoje. Tudo bem. O Ecopátio é muito útil e com certeza está ajudando muito, mas será que valeu a pena? Será que valeu trocar um Patrimônio Natural daquele tamanho pelas vantagens que ele nos trouxe? Vantagens que serão convertidas em lucro? Será que não seria melhor investir em ferrovias que poluem e custam menos? Perguntas sem respostas. Concluindo, a construção do Ecopátio devastou uma grande área de Mata Atlântica devido o ambicioso desejo do Homem Capitalista em obter mais lucro, destruindo um terreno inexplorado, que poderia ter novos espécimes de seres vivos. Problemas que poderiam ser evitados com o investimento em ferrovias. Eu sei que parece irônico ler um texto de uma pessoa como eu, um Capitalista tão assumido, que teve tanta influência na construção do Pátio, na expansão da cidade, etc., mas tente perceber minha reflexão, e faça a sua também. Aquela visita me transformou, e hoje sou um dos responsáveis pelo projeto de conscientização. Estamos plantando mudas para tentar recriar um lugar que nunca mais será o mesmo. Um projeto que está no começo, mas que serve como tentativa de desculpas de um homem Capitalista que passou a refletir sobre seus atos à inofensiva Natureza.



Caio Pantarotto

Clique aqui para conhecer mais sobre o “ecopátio”

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