quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aos pescadores da Baixada

http://bl126w.blu126.mail.live.com/att/GetAttachment.aspx?tnail=2&messageId=183eace2-b777-11de-87b0-001e0bcc05dc&Aux=40|0|8CC199B0212A940||


Mar agitado. A neblina atrapalhava a visão, não só por não me permitir ver o fluxo de peixes, como me impedia de ver aonde meu barco ia. Minhas únicas e fieis armas contra o tempo eram a bússola e só, a bússola. Joguei pela primeira vez a rede. Um tranco fez o barco balançar. Puxei a rede e só uma dúzia de peixes se encontrava nela. E de novo, e de novo. Joguei essa joça por umas dez vezes e vinham cerca de dez peixes em cada uma... E isso acontece por quase todos os dias. Uma Rotina.

Sou Jonas e tenho cinco filhos. Todos humildes e carinhosos como os pais, é claro. Minha mulher? Uma doçura. Vivemos numa casa precária caindo aos pedaços que, em dias de chuva as goteiras a inundam. Porém, somos felizes. Quase nunca nos falta comida. Se falta, é só por um dia. Mas eu e meus amigos de infância, que também são pescadores, nos revezamos. Quando falta peixe na casa de um, o almoço é na do outro.

Na nossa vida de pescador, a comida e a moradia são os nossos maiores problemas. Ah ,sim. E a educação dos nossos filhos também. A coisa aqui no mar, está ficando muito séria minha gente! O aumento das indústrias lá em Cubatão, e da pesca predatória estão acabando com os peixes que supostamente serviriam para o comércio e para o nosso almoço.

Nada mais é como antigamente. Dizia meu avô, que todo dia na hora da pesca, os peixes viravam seus amigos. Vinham dezenas e dezenas de nadadores só na primeira vez que a rede ia para água. Lembro me até hoje, que tinha peixada boa e suculenta na casa de minha mãe. A família ficava toda reunida... e para a digestão, vinha o glorioso e único, passeio pelo Monte Serrat.

Pensava eu, que hoje seria assim também. Mas nada. Hoje o mar parece ter trânsito. Não se pesca mais tão bem e com rapidez como era antes. E os pescadores, conseguiam pagar uma escola, razoável para seus filhos. E foi o que meu pai fez comigo. Graças a ele, não sou analfabeto, muito menos ignorante. Já meus filhos... eu tento ensinar a eles o que aprendi.

O que nos prejudica, é lá, a outra cidade. Em Cubatão, há muitas indústrias. E, com o aumento delas, e até o aumento da tecnologia nós pescadores saímos prejudicados. Todos os navios que vêm de lá, das indústrias de refinamento de petróleo para a exportação, passam por Santos, deixando uma camada densa de petróleo no oceano, acabando com a vida de todo peixe que nele vive. O jeito seria acabar com essa camada no oceano...mas, para isso, deve-se ter muito dinheiro, coisa que nos falta. Outro jeito também seria os pescadores terem mais respeito consigo mesmos e com os outros na hora de pescar. Mas a essa altura do campeonato, ninguém mais respeita ninguém.
http://bl126w.blu126.mail.live.com/att/GetAttachment.aspx?tnail=0&messageId=183eace2-b777-11de-87b0-001e0bcc05dc&Aux=40|0|8CC199B0212A940||

Mas e agora companheiros? O que vai acontecer com a gente? Vai ficar assim, só com a merrequinha que vêm em nossa frustrante rede. Usamos essa miséria não só para comer, como também para comercializar e ganhar dinheiro? Essas respostas só dependem de vocês, caros caiçaras.

Por enquanto – enquanto a justiça não é feita -, o jeito é incentivar os filhos da gente terem outra profissão. Quem sabe estivador?Ou quem sabe até procurar um emprego lá em São Paulo? Só sei que agora, o jeito não é ser pescador, e sim, procurar outra saída para ganhar seu próprio dinheiro. Eu falo isso, por experiência própria.

Marina Fernandes

Nenhum comentário:

Postar um comentário