sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Um olhar para o horizonte

Século XXI.

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Porto de Santos. Um olhar distante no horizonte azul. Os pensamentos voam. A África ficou distante. As areias brancas, a vegetação... a família.

Movimentação no porto. Navios que atracam, navios que partem. Guindastes vêm e vão carregando enormes caixas de mercadorias. Contêineres recheados de produtos que embarcam e desembarcam para destinos variados. Passageiros de diferentes nacionalidades, vindos de um cruzeiro, deixam o navio. Misturam-se a estivadores, marinheiros, prostitutas.

Um guindaste que cai. Barulho ensurdecedor. E o silêncio. Todos param. Seus olhos abandonam o horizonte e voltam-se para o cais. No meio da multidão um rosto negro, olhar triste chama sua atenção. Nesse momento lembranças dolorosas vêm à sua mente.

Séculos atrás num continente não tão distante de terras brasileiras um povo vivia livre, correndo na areia branca, caçando para sua sobrevivência, dormindo na praia olhando para as estrelas no céu. Chega o homem branco, poderoso, armado, querendo braços para trabalhar na lavoura. É a escravidão que se inicia.

Mancha negra na história do Brasil, a escravidão tratou o negro como mercadoria. Transportado em navios, acorrentado, faminto, chicoteado, marcado a ferro e fogo sobre a nádega ou sobre o peito com as iniciais de seu proprietário, trabalhando sem receber nada em troca, era vendido como objeto, como se um ser humano tivesse o poder e o direito de se apoderar de outro ser humano. Separação da família, dor, sofrimento, tentativas de fuga, castigos físicos, doenças,

Em pleno século XXI, com tantos avanços no campo da tecnologia e da ciência, que trazem ao homem conforto e perspectiva de vida mais longa, o negro continua marginalizado e injustiçado. No trabalho dificilmente ocupa cargos altos, ganha menos do que o branco e na busca de emprego é deixado de lado quando há disputa entre ele e um branco.

A injustiça contra o negro ainda é maior na educação. São poucos os que conseguem chegar ao fim do ensino fundamental e o número de analfabetos é grande. Consequentemente, encontrar um trabalho que dê ao negro melhores condições de vida, torna-se difícil.

Em 1988, a nova Constituição brasileira passou a considerar o racismo como um crime inafiançável, mas ele continua a ser praticado em todo país. São comuns as denúncias que aparecem na imprensa. Atualmente há muitos movimentos que têm o objetivo de lutar contra o preconceito e a marginalização do negro.

13 de maio de 1898. Fim da escravidão. Mas não o fim do preconceito e da marginalização do negro. Um dia a injustiça social, assim como a escravidão, acabará. Seu olhar distante, sonhador, volta-se para o azul do horizonte.

Fernanda Nahas

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