sexta-feira, 23 de outubro de 2009

“Nada é fácil”

Santos, 30 de julho de 1901.

Vivi boa parte de minha vida a beira mar, descarregando e carregando mercadorias de navios. Morava em um galpão sujo e cheio de ratos no tumultuado porto de Santos. Passava o dia inteiro trabalhando e morrendo de fome, pois éramos alimentados com restos de comida de casa ou restaurante. O nome desta difícil profissão era estivador.



As pessoas que freqüentavam o porto eram normalmente homens, portanto quando aparecia uma mulher todos ficavam olhando. As mulheres transitavam pelo porto eram prostitutas, que levavam essa vida muitas vezes para se auto sustentar. Elas mantinham relações com trabalhadores. Amigos meus já mantiveram relações com esse tipo de mulher, mas eu não, pois, tenho três filhos e sempre lutei para conquistar meu salário para sustentá-los. Não podia gastar o dinheiro da alimentação de minha família para satisfazer meu prazer com uma prostituta.

Nunca tive nada fácil, sempre conquistei o que quis com muito esforço e dedicação. Por isso não me queixo da vida que tive, trabalhei, trabalhei, mas consegui uma coisa que para mim é o que mais vale, uma vida digna.



Hoje estou aqui, deitado em uma cama de hospital público prestes a morrer. Tive uma vida longa, estou com quarenta anos, três filhos, dez netos e uma mulher. Não me arrependo de nada que fiz, ensinei minha família que não se tem nada de mão beijada, todos são trabalhadores e admiradores de minha força de vontade de fazer o melhor.

João Silva da Cunha, estivador.


Gabriella Barbara

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