quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A porta da verdade estava aberta

Ao passar por uma porta, nós, meias pessoas que somos, permanecemos iludidas. Mas - será possível? - a passagem diminui a miopia, os caprichos.

Esses são tempos estranhos, em que a vontade de arrebentar ou derrubar as portas quase se perdeu. (Será?) No máximo, espiamos o que há do outro lado pela fechadura e, só de tocar a maçaneta, intimidados, corremos de volta para não nos encontrarmos. Medo da luz? Ela seria muito forte?

Pode ser também receio de descobrir que, como antes, permaneceríamos metades, míopes e caprichosos.

Vai saber... A ideia é tentar.

Experimente carregar uma saca de café nos ombros, levantar a cabeça pesada, e ver quem chega. Ou talvez, manipular contêineres e ver quem sai. Será que o cheiro do porto mudou quando os trapiches foram destruídos?

Experimente entrar, à noite, em uma "casa de família" na Rua General Câmara, em busca de diversão. O pai da moça diria que você está em lugar errado, saberia que é novato (talvez até risse de você se estivesse de bom humor), e que deveria procurar as lâmpadas vermelhas se quisesse um trago.

Mas se seu sobrenome fosse Fox, você estaria mais longe da Boca de Santos. Você iria preferir o fog de Paranapiacaba e as casinhas no alto da serra - a porta de entrada para a baixada. Será, mesmo, que os Foxes e Smiths não desciam a serra no fim da noite? O maquinista descia. Manivelas, carvão, apito do trem. Reveja seu caminho. (O dele, e o seu.)

Hoje em dia já tem gente pensando nos caminhos que ainda serão percorridos. Não se interessam tanto pelos que passaram, mas pelos que passam e, sobretudo, pelos que passarão. Perguntam-se o que será da vila, da baixada se as coisas continuarem como estão. Estão em todos os lugares. ONGs, prefeituras, Unesco.

A ideia é tentar.

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