sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Difícil Vida Fácil

Quando se fala da minha profissão logo se liga à idéia de vida fácil, sem esforços, com dinheiro caindo do céu. Posso garantir a todos que querem saber que vida de prostituta não é nada fácil. E quem nos chama de mulher da vida, também está muitíssimo enganado. Mulher da vida? De que vida? Talvez uma vida em que tive que me esconder por muito tempo de minha família, amigos, conhecidos, para manter em segredo o “dinheiro fácil”. Uma vida, que se passou na cidade das trocas comerciais, minha vida inteira de Mulher da vida, aconteceu em Santos.

Por cinco longos anos da minha vida tenho me prostituído na cidade em que, na década de 80, tinha a maior incidência de AIDS, e hoje está em 9º nessa mesma lista. Nesses cincos anos, fui submetida a coisas que não desejo a nem sequer uma pessoa na face da terra, experiências que jamais vou esquecer. Muitas vezes, sinto nojo de mim mesma e me vejo como papel higiênico: sou usada, e depois jogada fora.
A vida de uma prostituta não é nada tranquila: temos que enfrentar a concorrência, e as brigas entre nós prostitutas não são nada raras.Mas, quando o assunto é a legalização de nossa profissão, estamos todas juntas para lutar por isso. Quando estamos na rua, e passa um carro de policia, temos que fugir, e quando nos perguntam qual a nossa profissão, não podemos simplesmente falar, como os advogados, os comerciantes, ou os professores fazem, pois a nossa profissão é ilegal.
No meio dessa minha jornada, me envolvi com drogas, e com elas estou envolvida até hoje. Tenho que aceitar fazer programas com preços mais baixos e muitas vezes sem preservativo, para poder sustentar meu vício. Tenho medo de que eu esteja com alguma doença sexualmente transmissível, mas como minha profissão não tem direito a nada, como não tenho direitos de uma trabalhadora, não posso tirar isso a limpo.
Meu ponto é na região portuária. Lá meus clientes são variados: estivadores, marinheiros estrangeiros – filipinos, japoneses, chineses – muitos deles são fixos há um bom tempo, e por um deles, sou completamente apaixonada. Tenho certeza que é ele quem vai me tirar dessa vida, e me levar pra morar com ele. Mas também vivo à mercê de clientes bêbados, drogados, violentos, agressivos, e desses clientes, ouço coisas que nenhuma mulher no mundo gostaria de ouvir de um homem. Mas não posso denunciá-los e nem fazer nada contra eles, pois o meu trabalho é ilegal.

Este é um dos meus clientes fixos, aquele por quem eu estou apaixonada.
Entrei nessa vida por vários motivos, e a prostituição era minha última opção, mas foi o que eu tive que escolher. Minha família e eu estávamos passando por muitas necessidades, eu estava à procura de um emprego há bastante tempo, e não tenho estudo. Foi aí que uma velha amiga me apresentou a opção da prostituição. No começo neguei, e disse que não faria isso por nada nessa vida, mas não houve opção, tive que entrar na profissão, e me adaptar a tudo.

Tudo que eu e a maioria das prostitutas queremos, é uma profissão digna, e a prostituição não é, pelo menos de acordo com a igreja católica, que eu frequentava, e não frequento mais, pelo fato de que lá, eles não aceitam a profissão. A legalização de nossa profissão não vai incentivar as mulheres a serem prostitutas. Isso nunca vai acontecer. Nós só queremos os nossos direitos, os direitos que qualquer ser humano, qualquer trabalhador deve ter, e que com a prostituta não deveria ser diferente, pois é a nossa profissão, e não diversão, como muitos pensam por aí.

Michelle P. Kaloussieh

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